
Esquadrão Suicida
Suicide Squad (EUA, 2016)
Uma das boas características da reinvenção do universo cinematográfico dos heróis da DC está na força dos seus protagonistas. Ben Affleck, Gal Gadot e Henry Cavill foram enérgicos e tiveram carisma suficiente pra sustentar O Homem de Aço e Batman vs. Superman: A Origem da Justiça, ambos dirigidos por Zack Snyder, e que introduziram estas novas aventuras compartilhadas no Cinema. Neste sentido, pelo que concebo, Esquadrão Suicida também herda esta impressão. De modo geral, os atores que compõem o núcleo central demonstram em cena interesse por suas histórias e realmente parecem se esforçar para conquistar seu espaço neste novo ambiente, e isso precisa ser enfatizado e valorizado. É uma pena, portanto, que os problemas evidenciem-se muito mais.
Faltas estas que, por sinal, não são poucas e partem do seu próprio título, que não há razão para sê-lo e sobre o qual discutiremos adiante.
O enredo continua cronologicamente a partir dos acontecimentos vistos nas adaptações precedentes. Após a morte do Superman, a repercussão sobre a existência de metahumanos afeta profundamente a sociedade. Se aquele passou a ser visto como herói americano, o “próximo” talvez possa caminhar por uma linha tênue. Pensando nisso, Amanda Waller (Viola Davis) desenvolve o Projeto Força Tarefa X, que reúne criminosos (dentre humanos e metahumanos) sobre o comando de um oficial das forças especiais, Rick Flag (Joel Kinnaman), em um esquadrão cujo objetivo é entrar em ação à fim de proteger os EUA contra ameaças de naturezas diversas. Como recompensa, o grupo de vilões teria suas penas abreviadas. São eles: Alerquina (Margot Robbie), Pistoleiro (Will Smith), Capitão Bumerangue (Jai Courtney), Diablo (Jay Hernandez), Crocodilo (Adewale Akinnuoye-Agbaje0), Magia (Cara Delevingne) e Amarra (Adam Beach). O roteiro é do próprio diretor David Ayer.
À priori, entendo que esta seria uma oportunidade de apresentar algo relativamente novo dentro do nicho: um grupo de vilões forçados a se sacrificarem em nome da segurança de um país é algo inusitado e exibe um natural potencial à ação. Infelizmente sua forma não está em consonância com sua intenção. Este potencial é sabotado constantemente por escolhas pouco desafiadoras por parte dos seus realizadores, capitaneados por Ayer. É constrangedor, na verdade, mencionar que quaisquer destas sequências não tenham uma sobrevida além do fim da sessão, pois são pouco criativas e desperdiçam o que o projeto provavelmente teria de melhor.
Adicionalmente, registro agora que rever filmes é um hábito que considero produtivo porque exercitamos nossas habilidades de persuasão e racionalização, bem como não afundamos no solo infértil das dúvidas e aparências. Rever Esquadrão Suicida, no entanto, suscitou mais questionamentos a cada revista das quais apontarei algumas agora.
O primeiro, que é uma ressalva estrutural, é o quanto o seu título pode soar impreciso. Já assistimos uma quantidade suficiente de filmes sobre grupos predestinadas à um objetivo para concluir que dar uma característica específica a cada um de seus membros é a coisa mais preguiçosa a ser feita, porém, pode ser útil. Aqui isto não é diferente (e não elaborarei maiores descrições sobre isso), mas observe que nos primeiros instantes, acompanhamos rapidamente o contexto de tortura que vivem Pistoleiro e Alerquina em Belle Reve (uma prisão peculiar em Louisiana) e somos apresentados à Amanda. Com isso temos a apresentação propriamente do filme (com o seu logo). Mas ele não era sobre um esquadrão? Os demais não deveriam ter também uma aparição prévia? Isto me deixa muito reticente, mas adiante minha hipótese sobre as intenções traiçoeiras de Ayer vem a serem confirmadas quando, por exemplo, Amarra - do qual só encontrei seu nome após olhar nos créditos - entra em cena com mais de quarenta minutos para sair de cena dez minutos depois sendo ele um dos integrantes deste grupo. Com isso, concluo que nesse esquadrão ninguém interessa muito. Fora o Pistoleiro e Alerquina, todos os outros são apenas fantoches com meia dúzia de falas e que, ainda por cima, tumultuam a história sem participação efetiva. Assim, o quão importante pode ser o esquadrão se mal conhecemos seus membros? Qual a razão de seu título? A ressalva fica por conta de Diablo, que ganha certo destaque na parte final.
Complementarmente, também é difícil conceber as razões pelas quais levaram Amanda a confiar na credibilidade de sucesso do esquadrão porque isto não nos é explícito. Qual a verdadeira contribuição de Alerquina e Capitão Bumerangue, por exemplo? “Em um mundo de homens voadores e monstros, este é o único jeito de proteger nosso país” é uma frase de efeito bem pensada utilizada por Davis, mas pode conter apenas um pouco de verdade. Ademais, observe também que a ameaça enfrentada pelo esquadrão neste filme está ligada a um próprio membro, ou seja, sem a existência dele tal ameaça também não existiria, algo que considero mal elaborado para dizer o mínimo. Além dos inerentes problemas narrativos que estas escolhas têm, roubam-nos também a possibilidade de vê-los em combate contra um terceiro, e assim, talvez pudéssemos saborear a reunião das suas especificidades.
Existem ainda meia dúzia de imprecisões de caráter pontual que poderíamos mencionar, mas por simplicidade, e neste sentido me esforçando pra evitar as elipses, acrescento que não há alguma revelação de impacto (quando deveria) e não há romance sob o qual podemos crê-lo. Esquadrão Suicida é carente de energia, de adrenalina, da insanidade que o seu contexto denuncia, mas apesar disso, há (poucas) coisas boas também.
Como mencionei na introdução, acredito que o elenco foi feliz, distanciando-se do “modo automático” e fazendo bom uso com o pouco que lhes cabe – até mesmo Affleck em uma curtíssima ponta deixa-nos excitados. Temos que Smith e Robbie fazem jus aos seus papéis de destaque, e em especial, não seria falso afirmar que Alerquina é o grande trunfo de Ayer, por seu carisma, pelo apelo sexual e pela possibilidade promissora de concatenar com demais tramas. De fato, sua expressão é magnética e, sendo otimista, sua popularidade talvez rivalize até mesmo com a dos grandes heróis desta nova era. O maior demérito dentre estes é a atuação de Jared Leto que, convenhamos, é ridícula.
Ademais, o design das personagens também me agrada, bem como a fotografia que vai do amarelado ao azulado (óbvios), mas que faz um bom casamento com alguns elementos em cores neon ao longo da projeção. E neste sentido, o grupo reunido é visualmente muito agradável e divertido, costurados pelas boas escolhas da trilha sonora. Ainda que os problemas apontados sacrifiquem a nossa euforia e sejam como um banho de água fria, surpreendentemente deposito expectativa em relação às adaptações futuras, mesmo que para isso tenha de recrutar mais da minha força de vontade do que poderia supor.
Brasília, 30 de maio de 2017.
Direção e roteiro de Davyd Ayer. Com Viola Davis, Margot Robbie, Will Smith, Jai Courtney, Jay Hernandez, Adewale Akinnuoye-Agbaje0, Cara Delevingne e Adam Beach.
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