top of page

O Homem do Futuro

O Homem do Futuro (Brasil, 2011)

 

A viagem no tempo é um artifício já bastante explorado no Cinema, inclusive associado a distintos gêneros como ficção-científica, ação e comédia, para os quais podemos citar as franquias amplamente conhecidas De Volta para o Futuro de Robert Zemeckis, O Exterminador do Futuro iniciada por James Cameron e, mais recentemente, Meia-Noite em Paris de Woody Allen, por exemplo. Todavia, no portfólio doméstico, sobretudo, para comédias, estas “idas e vindas alucinantes” são uma novidade e podem estar associadas também à inspirações hollywoodianas, como já foi introduzido no meu texto de Mato Sem Cachorro. De fato, reforçamos junto ao O Homem do Futuro o feliz advento de um rompimento com as fórmulas popularescas tradicionais que dominam os principais títulos nacionais e que, além de bom gosto questionável, estas últimas mais adequam-se à linguagem televisiva do que a cinematográfica.

Roteirizado e dirigido por Cláudio Torres (Redentor, A Mulher Invisível), O Homem do Futuro se concentra em João (Wagner Moura), um cientista amargurado que acredita ter criado uma nova forma de energia sustentável. Na tentativa de provar que seu experimento é seguro, durante o procedimento e por alguma razão inesperada, é transportado para um momento de grande impacto na sua vida, associado ao seu romance com a irresistível colega de curso Helena (Alinne Moraes) vinte anos atrás, cujo fim do breve romance jamais fora superado. Assim, João tem a possibilidade de mudar seu destino.

Torres destaca-se pela narrativa despretensiosa que com substância utiliza algumas das possibilidades que são naturais ao tema, como por exemplo a recriação de cenas introduzindo novos elementos ou sob um novo ponto de vista, o qual considero sempre um artifício divertido. Aliás, O Homem do Futuro torna-se ainda mais instigante por conciliar isto com a montagem ágil e bem executada de Sérgio Mekler. Neste sentido, por si, nota-se que poder-se-ia causar ligeira confusão no expectador menos atento, haja vista que lidar com a estrutura do tempo com distintas realidades alternativas é uma ideia mais elaborada e ambiciosa do que supõe-se para uma comédia nacional, a priori. Todavia, talvez reconhecendo que isto possa prejudicá-lo (afinal de contas, uma abordagem com muitas ideias científicas não convém a este projeto), Torres apresenta seus personagens de forma absolutamente caricatural e constantemente lança mão de diálogos bobos, algo que julgo como um “contrapeso” mas que não chegam exatamente a prejudicá-lo.

De fato, se há um elemento catalisador que consegue blinda esses “contrapesos” chama-se Wagner Moura. João é o grande centro; e mesmo diante das suas distintas “cópias” (e portanto, distintas motivações), que em certo momento inclusive coexistem, João agrega a vilania e o heroísmo, o sonho e o ceticismo, e é a qualidade da interpretação de Moura e seu carisma que o torna organicamente multifacetado. Além disso, Moraes exala beleza e segurança em todos seus momentos. O resultado dessa equação é um adorável casal que corrobora majoritariamente para o sucesso do filme. Por outro lado, os coadjuvantes Maria Luísa Mendonça, Fernando Ceylão e Gabriel Braga Nunes não chegam a ser marcantes.

Leve, bem humorado e bem estruturado, O Homem do Futuro tem a nobreza de passear com fluidez pelo romance, pela comédia, pela ficção-científica e pelo drama, algo pouco comum à nossa produção cinematográfica. Estampando em seu estandarte o sentimento jovial da composição de Renato Russo, torna-se notável também por não ser pseudocômico, salientando a possível e bem-vinda bifurcação indicada acima.

Brasília, 30 de junho de 2016.

 

 

Dirigido e roteirizado por Cláudio Torres. Com Wagner Moura, Alinne Moraes, Maria Luísa Mendonça, Antônio Ceylão e Gabriel Braga Nunes.

 

bottom of page