
Jurassic World: Reino Ameaçado
Jurassic World: Fallen Kingdom (EUA, 2018)
Em 1993, o Parque dos Dinossauros de Steven Spielberg apresentou-se com uma proposta de “sessão da tarde” ancorada na aventura e incluindo também leves toques de filme-de-monstro. O tempo encarregou-se de envelhecê-lo muito bem e, durante todos esses anos, ganhou quatro continuações que jamais conseguiram assemelhar-se ao original. Estes filmes, na verdade, têm uma muleta nostálgica indiscutível, talvez como maquiagem para marasmo como que foram concebidos. Ainda assim, é um alívio que Reino Ameaçado destaque-se ao menos pelo seu talentoso diretor.
Afinal, não há esperança de entusiasmo ao martelar-se seguidamente a mesma dinâmica: novamente há um velho-milionário-idealizador, um caçador destemido e cético, um empresário capitalista-ganancioso, um dinossauro híbrido que vai destruir tudo pelo seu caminho e, no caso, uma representante do núcleo infantil. Há ainda aqueles três ou quatro coadjuvantes que gritam, fazem caras e bocas de pânico e que são igualmente irritantes e descartáveis. É irreparável que esta é uma descrição redutível, mas fiel, sem corrermos o risco de parecermos presunçosos. Desta vez, o péssimo roteiro é de Derek Connolly e Colin Trevorrow .
Reino Ameaçado assemelha-se a O Mundo Perdido, ou no que este último poderia ter levado. Há uma oportunidade de desenvolver uma discussão bem posta sobre clonagem humana e há também um belo discurso sobre a coexistência entre esses animais, ditos desextintos, e a humanidade, mas são apontamentos apenas sugeridos como uma promessa até então, sem pretensão de destaca-la ou fazê-la mais relevante. Ao invés disso, os roteiristas investem sua fé para muito além do racional na velociraptor Blue, ideia já apresentada em O Mundo dos Dinossauros no limite do aceitável. De modo geral, eles claramente reproduzem artifícios narrativos já muito velhos pois buscam apenas o efeito, o sonho, o aparente, a ação e que por si nem sempre funciona, como é o caso.
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Entretanto, há de se esclarecer que o olhar caprichado do diretor espanhol J. A. Bayona trouxe algum frescor. Responsável por O Orfanato, suspense produzido por Guillermo del Toro de destacado bom gosto, Bayona apresenta um inteligente e consistente uso de sombras (algo que você pode conferir a partir da primeira cena), refletindo a influência do gênero o qual é egresso.
Diria mais. Bayona destaca-se, sobretudo, por dois momentos marcantes (estes considerando toda a franquia): o primeiro deles é a sequência da destruição da Ilha Nublar feita com dinâmica e energia e coloca os nosso protagonistas (melhor entrosados) em situações cada vez mais desafiadoras, além da muito versatilidade pois temos um vulcão explodindo, temos dinossauros duelando, temos uma corrida desesperada pela sobrevivência culminando numa resgate subaquático, tudo isto acontecendo freneticamente mas sem jamais confundir o espectador com a geografia da cena. Além disso, esta sequência conclui-se brilhantemente com uma emocionante despedida. O segundo momento que destaco, este meu favorito, dá-se quando certo dinossauro imenso adentra lentamente ao quarto de uma criança. Esta cena é um pesadelo do começo ao fim, muito criativa, inédita até então na franquia, e resgata o viés de filme-de-monstro descrito anteriormente.
Tecnicamente falando, estes apontamentos são atenuados pela alta qualidade dos efeitos visuais que vão cada vez mais fundo no realismo e nos detalhes, sendo este um dos pontos altos do filme. A trilha sonora do experiente Michael Giacchino também se faz notar.
Partindo de um ótimo close nos sapatos de Bryce Dallas Howard, o que denota um perfeito entendimento sobre o que o filme é, dentro e fora da tela, o resultado final dessa equação é um pouco decepcionante. É bem executado tecnicamente e seguro de si quanto ao entretenimento que se propõe. No entanto, a fadiga do quinto regresso a ilha também está presente com o agravante de ainda serem apresentados letreiros com a descrição daquele lugar, o que do meu modo de ver é como uma afronta a inteligência do seu público.
Brasília, 23 de julho de 2018.
Dirigido por J. A. Bayona. Roteiro de Derek Connolly e Colin Trevorrow. Com Chris Pratt e Bryce Dallas Howard.